Saiu
para comprar cigarros e…
Entrou
nesses botecos com porta igual aos filmes de faroeste. Lembrança
velha, no comercial, a propaganda de cigarros, olhos admirados e
bobos. O pai, doido de fumar, um atrás do outro, o cheiro, a voz,
cigarro humano, tomou apreço, um lado libertário, fumar era ato de
macho, melhor que enfrentar valentões, a mulherada estasiada pra
beijar os carinhas que fumavam, só charme, pra mostrar de bonito.
Saiu
pra comprar cigarros e…
Calor,
boteco abafado, música, música calma, de termino de expediente.
Pouca gente, animação zero. No balcão, prateleira de bebidas,
outra prateleira, encontrou o que queria. A cara do velho que atendia
letargia pura. Que vai querer? Sem jeito falou da cachaça do
alambique. É muito boa. O velho com ar malicioso. Trouxe a garrafa e
o copo, dobrou a dose. Conta da casa, a metade você paga. Beberia de
uma vez, uma loira, despercebida, o encarou, lábios destacados,
batom vermelho, mulher clichê, saia curta, pernas brancas em meia
calça preta de renda, bebia cerveja, garrafa cheia e gelada.
Bebeu
a cachaça. Se arrependeu. A cerveja era mais tranquila. Só levaria
tempo pra beber. É policial? A moça arriscou perguntar. Embriagada
não estava. Olhos sóbrios, gestos sóbrios. Enxergou beleza, decote
bonito, seios médios na blusinha. Não. Não sou policial. Tenho
cara? Tem jeitão de tira. Que bom que errei. Oras, cometeu algum
crime? Tenho medo de polícia, cometi porcaria nenhuma. Libertou um
sorriso pra ele. Voltou a beber a bendita bebida, bebeu metade.
Disfarçou, calor estranho agitou o corpo, quase perdeu o folego.
Nunca
te vi. Falou a loira, a cerveja tinha ido embora. Encheu, deu um belo
gole. Sai pra… Interrompeu. Ela nem deveria saber. Curiosidade
mata. Entrei hoje. Bom lugar. Desculpa qualquer. Arranjou coragem pra
terminar a dose, que sensação terrível, que sofrimento! O velho
saiu, foi ver o que o cidadão queria, estava bêbado, na mesa vodca
e porção de calabresa. É um bom lugar, de gente feia. A moça
sorriu. As mesmas pessoas, os mesmos pedidos. Cair na rotineira é
chato pra caramba. Que pena, né? Pena? Querendo soar engraçado?
Ficou sem graça. Pediria o maço de cigarros e cairia fora.
Infelizmente o velho se escafedeu no fundo do boteco. Ela bebeu outro
copo da cerveja, levantou do banquinho. Disse no ouvido dele. Estarei
no banheiro. Deu leve mordida na orelha. Andou, o velho retornou, nem
perguntou da mulher. Engoliu o restante da cachaça. Desta vez não
teve nenhum mal-estar. Limpou a boca com o papel. Olhou na direção
do banheiro, a loira esperando, a prateleira, o maço ainda lá. Vou
ao banheiro. O velho balançou a cabeça positivamente. Abriu a
porta. Pensei que desistiu. Ou fugido. O puxou para si, enlaçou-o.
Era delicioso escutar a respiração dela, envolvente, sedutora. A
voz excitante, provocativa. Faz programa? A moça riu. É engraçado,
moço. Sem perguntas. Saiba que sou casado. Quieto! Começaram o
beijo e os movimentos aos poucos aumentando no calor abafado.
Ela
saiu primeiro. Pagou, deu um até amanhã e foi embora. Ele veio em
seguida, o velho encarou, temeu que perguntasse. Pagou, disse até
mais. O boteco vazio, sem graça, monotonia pintada. Deu calafrio,
andou mais rápido pra sair. De fora, ar agradável. Saiu pra
comprar cigarros e… distraiu. Perdeu-se na multidão sem fim.
(Rod.Arcadia)
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