quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O Invasor








Entra na casa de cor azul do céu. Mas antes, coloca seus pés na área de grama sintética, flores artificiais, duendes, cogumelos, gansos, cisnes de pedra. Põe a mão na maçaneta, aperta, aperta forte. Gira, abre, um cheiro agradável invade seu nariz. Abre sorriso curto e os dentes reluzem desfocados, seus pés no tapete, vê a estante de livros, o aquário, a televisão, a chaminé, o piano e fotografias. No sofá pega o controle remoto e aponta para a televisão e clica no botão vermelho. A imagem abre no rosto do Pica-Pau.

Aperta o botão de mudar. Muda dez ou doze vezes e retorna no Pica-Pau. Depois de vinte minutos abre a geladeira. Retira a lata de cerveja, no sofá, bebe e encosta a cabeça na almofada. Assiste o Pica-Pau, ri das palhaçadas do personagem. Termina a primeira cerveja, pega outra e continua a assistir. Neste vai e vem, latinhas espalhadas na sala.

Cansado da televisão, desliga. No banheiro, toma banho, meia hora. De novo na cozinha, hambúrguer, requeijão e saco de pão. Prepara o lanche, farta-se ricamente.

Noite. No sofá, permanece nas trevas, amigo do silencio, noite, é noite.

Duas horas depois:

A porta abre, passos de salto alto, barulhos de sacolas, ascende à luz, vê sentado no sofá. As sacolas caiem das mãos, paralisada, ambos se entreolham. O marido violento voltou.


(Rod.Arcadia)

Nenhum comentário:

Postar um comentário