Tudo
começa nas melhores famílias, como a minha. Ah, a minha é uma das
melhores, não tenho que negar. Veja os exemplos das outras, dos
vizinhos, não se comparam
com a minha família.
Chamo-me
Milton,
casado com Mirian e temos a Mirela, a filha mais velha e o
Marquinhos, que é o caçula. Não me pergunte como esse negocio de
letra “M” começou, mas já que Mirian e eu temos as mesmas
iniciais, continuamos com os nossos filhos.
Conheci
Mirian na festa junina da igreja do São Dimas. Ela dançava a música
de um grupo country desafinado. Foi atração, soube o seu nome, onde
morava, lembrei de um poema de Manuel Bandeira, e tudo aconteceu.
Depois
vieram os filhos. Primeiro veio a Mirela, que tem seus 22 anos,
estudante, curso no Senai de elétrica, pinta o cabelo de vermelho,
está na idade de
namoro e namoro é que eu contarei mais pra frente. O Marquinhos, o
caçula tem seus 20 anos e parou de ir à escola. Pelo menos,
trabalha de motoboy. É um bom garoto.
Como
eu disse, era idade de namoro sério.
Até que um dia, Marquinhos apareceu com uma moça.
Até que um dia, Marquinhos apareceu com uma moça.
Aparentemente
21 anos, alta, magra, a pele do corpo, era
pink, cabelos
longos,
que despontavam no seu quadril, eram
amarelos
feito gema de ovos, os olhos púrpuras,
esferas planetárias poéticas, o nariz fino e pontudo, no entanto
muito magra, fina feito papel, lábios pequenos pintados de um leve
vermelho carmim, mas, o que mais chamara atenção, era a cor, uma
cor que nunca tínhamos visto.
Ela
era Pink. Que espécie de criatura possuía
pele pink? Marquinhos nos
apresentou, que o nome era Monique, que de dia trabalhava no salão
de cabeleireiro e de noite trabalhava na boate, dublando cantoras
americanas.
Monique
falava mole, um tanto exagerada e Marquinhos revelou
que tinha a
conhecido, nesta boate, que se gamou por ela e que
fazia
três meses que
namoravam, e que faltava coragem de falar pra
gente.
Na verdade, eu era o único
que não sabia, já que, Mirian e Mirela sabiam há muito tempo.
Por que tanto segredo e medo? Tá certo que a moça, era um tanto diferente, imaginei que meu filho, chegaria em casa com uma loira de 1,90m, olhos verdes (ou azuis), rostinho de modelo, não são essas as fantasias de qualquer garoto da idade dele? Casar com uma loira fenomenal? Só que, fantasia é uma coisa, realidade é outra. Acontece que os garotos acabam casando com mulheres de cabelos escuros e se conformam com isso. Mas, com o meu filho era diferente, não tinha nada de cabelo escuro, e sim uma de pele pink, de cabelo gema de ovo.
Por que tanto segredo e medo? Tá certo que a moça, era um tanto diferente, imaginei que meu filho, chegaria em casa com uma loira de 1,90m, olhos verdes (ou azuis), rostinho de modelo, não são essas as fantasias de qualquer garoto da idade dele? Casar com uma loira fenomenal? Só que, fantasia é uma coisa, realidade é outra. Acontece que os garotos acabam casando com mulheres de cabelos escuros e se conformam com isso. Mas, com o meu filho era diferente, não tinha nada de cabelo escuro, e sim uma de pele pink, de cabelo gema de ovo.
Em
meu
quarto, soube a verdade, mesmo que Mirian tenha demorado em dizer.
– Ela é transexual.
– Quê! Transa o quê?
– Transexual. – Repetiu.
Fiquei um tempo pensando, até que caiu a ficha.
– Tá dizendo que o Marquinhos namora um travesti?
– Não é travesti, é transexual. Travesti não opera, transexual, sim.
– Pouco importa. É traveco. Marquinhos namora um trave…
Mirian tapou minha boca.
– Não fale assim.
– Ela é transexual.
– Quê! Transa o quê?
– Transexual. – Repetiu.
Fiquei um tempo pensando, até que caiu a ficha.
– Tá dizendo que o Marquinhos namora um travesti?
– Não é travesti, é transexual. Travesti não opera, transexual, sim.
– Pouco importa. É traveco. Marquinhos namora um trave…
Mirian tapou minha boca.
– Não fale assim.
Aí
ela explicou, que no estrangeiro, homem que quer mudar de sexo, além
de desistir do membro, pode mudar a cor da pele. Se for para
modificar, modificava tudo. O nome era “Projeto Borboleta no
Casulo.” Quando conheceu a moça, ela estava metamorfoseada. Eu não
engoli, meu filho de beijos com um trave…
- Eles se gostam. – Falou Mirian. – Não esquenta.
– Não esquenta, porque o nosso filho, não namora uma mulher de verdade, e sim um trave…
- Xi!
– Isso não é normal, Mirian!
– Milton, você tem que saber, que o mundo está mudado, ele transvirou.
– E o que será de mim? Como comentarei com meus amigos de futebol e churrasco, que meu filho namora um trave… – Mirian fez cara feia. – Tá, cê sabe o que eu quis dizer. O que será de mim?
– Está pensando somente em você. E não acha que os filhos machões dos seus amigos, não têm fantasias, por uma pessoa igual à Monique? É um novo mundo amor, é nós temos que nos acostumar.
- Eles se gostam. – Falou Mirian. – Não esquenta.
– Não esquenta, porque o nosso filho, não namora uma mulher de verdade, e sim um trave…
- Xi!
– Isso não é normal, Mirian!
– Milton, você tem que saber, que o mundo está mudado, ele transvirou.
– E o que será de mim? Como comentarei com meus amigos de futebol e churrasco, que meu filho namora um trave… – Mirian fez cara feia. – Tá, cê sabe o que eu quis dizer. O que será de mim?
– Está pensando somente em você. E não acha que os filhos machões dos seus amigos, não têm fantasias, por uma pessoa igual à Monique? É um novo mundo amor, é nós temos que nos acostumar.
Bem,
não está sendo fácil acostumar. Pensei.
E se fosse fantasia do Marquinhos, para saber como namorar
um trave?
Pra
dizer aos netos, que namorou um…
Que eu viria entrar de mãos dadas, com uma mulher de verdade, (podia
ser evangélica) era o que pensei, que era somente, fantasia de
garoto.
No
café da manhã, minha filha
tinha a mesma opinião que a mãe.
– A Monique é gente boa.
– Como sabe? – Perguntei.
– Nós três saímos.
– Ah, sei. E sua mãe sabia de tudo?
– Sabia.
– Acha correto seu irmão namorar um trave…?
Ela fez uma careta negativa.
– Cê sabe o que eu quis dizer. Acha correto?
– Pai, o Marquinhos tá feliz, falou em voltar a estudar, terminar os estudos, pra garantir um serviço melhor. A Monique está fazendo bem a ele.
– Terminar os estudos? Ele te disse?
– Disse.
– Isso é, uma excelente notícia.
– A Monique é gente boa.
– Como sabe? – Perguntei.
– Nós três saímos.
– Ah, sei. E sua mãe sabia de tudo?
– Sabia.
– Acha correto seu irmão namorar um trave…?
Ela fez uma careta negativa.
– Cê sabe o que eu quis dizer. Acha correto?
– Pai, o Marquinhos tá feliz, falou em voltar a estudar, terminar os estudos, pra garantir um serviço melhor. A Monique está fazendo bem a ele.
– Terminar os estudos? Ele te disse?
– Disse.
– Isso é, uma excelente notícia.
No
domingo, Marquinhos apareceu com a tal Monique, e eu como pai, quer
dizer, exercendo minha autoridade de chefe da casa, perguntei mais
sobre
a vida
dela. Que nasceu em São José dos Campos, morava no bairro do
Morumbi, tinha uma família de quatro irmãos, três homens (contando
com ele) e uma menina adotada. O pai trabalhava na General Motors, a
mãe dona de casa. Começou a sentir desejos por homens aos doze
anos, namorou com meninas, para tentar não escandalizar a família,
não conseguiu
continuar.
Era mulher, no corpo de um homem. Aos dezessete se vestiu de mulher,
escolheu o nome Monique, porque o achava bonito. Aos dezenove, quis
mudar de sexo, de
corpo, cor e nome e pagou para entrar no
“Projeto Borboleta no Casulo”, que não há
mais vestígios de masculinidade,
e que
se sente orgulhosa
por isso.
Ai.
Dá
arrepios pensar, em
meu filho beijando um trave…
Fantasia de garoto, só podia.
O tempo foi passando e Marquinhos continuava o namoro e terminou os estudos, não era mais motoboy, trabalha como instalador de computador, arrumou economias para financiar um apartamento no Parque Industrial.
Fantasia de garoto, só podia.
O tempo foi passando e Marquinhos continuava o namoro e terminou os estudos, não era mais motoboy, trabalha como instalador de computador, arrumou economias para financiar um apartamento no Parque Industrial.
Eu
pensava que era fantasia de garoto.
A família de Mirian soube, a minha idem. Todos conheceram a namorada, consideraram um excelente trave… Uma excelente moça.
A família de Mirian soube, a minha idem. Todos conheceram a namorada, consideraram um excelente trave… Uma excelente moça.
Os
vizinhos que olhavam de nariz torto, desistiram, estavam carregados
de problemas nas
vidas deles.
Era fantasia de garoto, acreditei.
E
num outro almoço, com churrasco, Marquinhos veio falar comigo
sozinho. Tive um calafrio, desconfiava do que seria.
– Pai.
Pausou.
– Pai. Sabe que eu e a Monique, estamos há muito tempos juntos e o senhor pode crer, nos amamos, por isso organizei esse almoço especial...
– Vamos, sem enrolar. O que quer falar, realmente?
– É que…
- Hum, e aí?
– Eu e a Monique… A gente resolveu…
– Se casar?
– É. Isso aí, resolvemos nos casar. Vamos morar juntos, construir vida a dois. O senhor sabe, o que estou dizendo.
– Sei. Sei muito bem.
- Olha.
– Pai.
Pausou.
– Pai. Sabe que eu e a Monique, estamos há muito tempos juntos e o senhor pode crer, nos amamos, por isso organizei esse almoço especial...
– Vamos, sem enrolar. O que quer falar, realmente?
– É que…
- Hum, e aí?
– Eu e a Monique… A gente resolveu…
– Se casar?
– É. Isso aí, resolvemos nos casar. Vamos morar juntos, construir vida a dois. O senhor sabe, o que estou dizendo.
– Sei. Sei muito bem.
- Olha.
Ele
retirou
do bolso uma caixa de anéis, abriu
e duas alianças douradas e chamativas reluziram.
– Resolvi noivar. Bonitas, não é?
– Muito.
– Resolvi noivar. Bonitas, não é?
– Muito.
Danou-se.
Não era fantasia de garoto.
– Marquinhos, tem certeza de que é isso, que quer pra sua vida?
– É o que mais sonho, pai. Sou gamado nela, o meu futuro é ao lado dela.
– Mas você terá como mulher, um trave…
Ele lançou um olhar de pena pra mim.
– Sabe o que eu quero dizer.
– Nós decidimos.
– Se houve uma escolha, não serei eu que interromperá. Reúna sua mãe, irmã e a namorada.
– Marquinhos, tem certeza de que é isso, que quer pra sua vida?
– É o que mais sonho, pai. Sou gamado nela, o meu futuro é ao lado dela.
– Mas você terá como mulher, um trave…
Ele lançou um olhar de pena pra mim.
– Sabe o que eu quero dizer.
– Nós decidimos.
– Se houve uma escolha, não serei eu que interromperá. Reúna sua mãe, irmã e a namorada.
Aí
anunciou o noivado, iriam se casar. Mirian não parava de chorar, e
eu com cara de banana vendo a cena.
É por isso que eu digo. Não existe família igual a minha. Aposto que nenhuma delas passaram, o que estou passando. Vai por mim.
É por isso que eu digo. Não existe família igual a minha. Aposto que nenhuma delas passaram, o que estou passando. Vai por mim.
Estou
na igreja, em pé ao lado de Mirian,
igreja lotada de gente.
A
igreja enfeitada com fita e flores brancas, no chão, um lindo tapete
vermelho, em cima, no coro, vozes ensaiando, do nosso lado, um pouco
afastado, Marquinhos de terno branco e bonitão.
Chegaram
mais gente, ficaram
ao meu lado e de Mirian. Durou um longo tempo. Aí começou os
acordes.
As
vozes do coro preenchiam
a acústica, o padre entrou, todos os presentes se levantaram,
ela veio
entrando com duas damas de honra. Vinha
em
passos lentos. Mirela, que estava
no banco da frente, clicava
na máquina
fotográfica e Monique,
em passos lentos, usando vestido branco de seda, sem véu, segurando
o buquê, o sapato branco, sem exagero.
Marquinhos
deu
sua mão pra
ela e
beijou
a dela, conduziu-a
na frente do padre, se ajoelharam.
Mirian não parava de chorar.
– Por que chora?
– De felicidade. Nosso filho emocionado, olha na cara dele.
– Não sei pra que tanta emoção, tá casando com um trave… ai!
– Por que chora?
– De felicidade. Nosso filho emocionado, olha na cara dele.
– Não sei pra que tanta emoção, tá casando com um trave… ai!
Mirian
me beliscou.
Ninguém ouviu. Ouviam
o padre.
Isso não acontece nas melhores famílias.
Te vejo por aí.
Isso não acontece nas melhores famílias.
Te vejo por aí.
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