domingo, 22 de setembro de 2013

E Assim Continua...

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Bate uma vontade de entregar a vida. Após sessenta e seis anos pensar na entrega é válido. Um motivo concreto é o tanto de passagens que ocorreu nos anos. Foram muitas, boas, dolorosas, tempestades e calmarias. O cabelo ralo com cheiro de talco sabe. O cabelo não nega, nunca negou. Nem o resto do corpo, que com o convívio se aposentou. O corpo sabe, é hora de se entregar.

Não seria se entregar à morte? Morrer, falecer, bater as botas, ir pra um lugar melhor? Tanta faz! Pra alguém na idade encontrar um nome adequado não teria mais importância. Sim, com certeza, não havia importância. Até suas botas de sargento concordava num mero devaneio descontraído. Aposentadas também estão às botas. Lustradas, limpas e cheirosas. Não há chulé, ah não! Sabe cuidar delas tão bem, mais que os outros pertences que ficavam com ciúmes.

Levanta muito cedo. Tão cedo que a escuridão ainda domina a cidade. Sentado na cama, olha a parede, escuta o próprio respirar e assiste as danças das últimas mariposas na lâmpada. Logo no clarear do dia voltam pra suas casas para descansar. Acorda cedo, não quer encontrar o sono, não encontraria sono nenhum. Hora certa pra pensar na própria morte. Tão cedo assim?

Liga o aparelho de som, estação de rádio. “Num fio de cabelo no meu paletó.” * Troca. Revira pra cima e pra baixo o botão do aparelho, só dão notícias trágicas. “Moça jovem é encontrada no matagal. Indícios de violência sexual” “Assaltantes invadem casa de bairro de classe média e fazem vítima.” “Ciclone arrasa a região norte dos Estados Unidos.” Desliga. Distrai fazendo café.

O dia clareia. Pensar em morrer tira o pouco de vontade de beber café. Bebe na marra, sem pão, sem bolo e sem nada. Gosta desse jeito, sem digerir nada cedo. Guarda para o almoço. Disseram que não era saudável esperar até o almoço pra começar a digerir. Não é homem de obedecer a conselhos bobos e baboseiras. Gosta de mandar e não de obedecer. Foi sargento, tem no sangue o lado mandão de comandar. Velho de guerra enferrujado.
Arruma a cama. Como é organizado faz tudo direitinho. Dobra o cobertor e enfia junto com o travesseiro no guarda-roupa. Não há hora mais correta pra pensar em deixar a vida. Pega a toalha, entra debaixo do chuveiro, pensa, pensa e pensa. Não tinha preparado o plano da própria morte. Não necessita de planos. Pra ele, ex-sargento, sessenta e seis anos, descarta planos no momento. E como seria e como deveria ser?

Lembra-se do veneno de rato. Pois dias desses por abuso uma dessas criaturinhas invadiu seu quartinho. Era rato enorme, de assustar qualquer cidadão. Sem amedrontar do pequeno e nojento bicho trouxe do mercado o veneno. Espalhou pra todo canto, debaixo das velhacarias, buracos e frestas. Procurou o bendito, não estava em nenhum lugar. Pra onde teria ido? O rato roubou? Depois que colocara não sentiu mais a presença do roedor, que safado levou o veneno junto. Foi ai que se lembra da vizinha de porta, a dona Nice.
– Ah, poderia me emprestar pra botar lá em casa? Estou ouvindo barulhos estranhos de noite.
– Posso sim, dona Nice.
E emprestou pra vizinha e por lá ficou. Não lembrava, pois a preocupação com o rato havia terminado. Esqueceu e precisava do objeto, necessário pra realizar a vontade de...

Busca desculpa pra chegar à vizinha e pedir de volta. Mas é dele, não necessita de desculpa pra obter o próprio objeto.

A vizinha dona Nice esquecida pela família. Contava que teve o único filho levado, preso e desaparecido pela ditadura. Nunca mais o encontrou. Sozinha, não conseguiu apoio, veio parar na vila, no aluguel do quartinho, muito antes do ex-sargento, prevê qualquer coisa de errado, farejadora de problemas alheios. Prestativa, nunca recusou ajuda, pronta pra ajudar qualquer pessoa, conhecida ou desconhecida.

Não é difícil pedir de volta. Teria que aguardar até ela acordar e abrir a porta. Saia pra padaria buscar pão e leite para o café e assim falaria:

– Bom dia, dona Nice. Poderia por favor, devolver-me o veneno de rato que emprestei semanas atrás pra senhora? Preciso urgentemente.
– O bicho entrou de novo no quarto?
– Não, não. Não é pra isso que eu quero.
– Hum, se não há mais nada pra que precisa?
– Bom, dona Nice, o que emprestei é meu, então tenho o direito de pegá-lo e quero porque decidi entregar minha vida.
– O quê! Entregar a vida?
– Morrer, ingerir o veneno e morrer, senhora.
– Cruzes! Que brincadeira mais besta! Depois de velho virou piadista? Não fale em morrer, faz lembrar meu filho que a ditadura assassinou.

A conversa cairia no assunto do filho. Se aparecia um caso de morte na conversa lá vinha com o papo. Cheirava a provocação, sabe que o vizinho foi sargento na época da ditadura. Sempre pronta pra disparar indireta e provocação.

Ah, não tem como evitar a conversa e não tem como arrumar a desculpa da morte. Deixa pra lá.

Algum tempo a senhora abre a porta. Ele rapidamente sai num gesto de motivo.

– Ah, olá, senhor. Bom dia!
– Bom dia, dona Nice. Indo na padaria?
– Ah, não. Levantei pra visitar uma senhorinha doente que mora ao redor da praça.
– Coitadinha... O que ela tem?
– Diabete. E a família pede qualquer ajuda, não tem tempo pra ficar com a senhorinha o dia inteiro.
– É complicado...
– É sim. Ah, desculpa, tive que emprestar o seu veneno pra dona Carminha. Encontrou uma baita ratazana dentro de casa. Cruzes, que horror, arrepia.
– Não tem problema, dona Nice. Não escutei mais o barulho à noite.
– Que bom. Eu também não. Tenho que ir, adeus.
– Adeus, senhora.

Vê a mulher abrir o portãozinho e ganhar à calçada. Entra pra dentro e senta na cama. O objeto que usaria para morrer está longe. Bem, nem muito longe. Seis casas antes da dele. O ruim é que não tem amizade e papo com a pessoa. O máximo que tem é uma prosa curta e rápida. O que quer encontra com ela, é só caminhar até lá, bater palmas e pedir o veneno. Simples, sem nenhuma dificuldade.


Troca de camisa, uma branca que comprou um mês atrás. Sai. De encontro outra vizinha chegando. Essa mais nova, negra, trabalha no período noturno. Hoje veio tarde do serviço, ele não liga, tem seus problemas. Cumprimenta e vai pra rua.

Anda logo, perde tempo. Até porque morreria e deseja o mais rápido que puder, com sessenta e seis anos havia esperado muita coisa na vida, agora pra morte, quer um ato rápido e sem dor.

Dona Carminha estranha parado no portão. O dia mal tinha começado e é obrigada a atendê-lo.
– Pois não?
– Bom dia, dona Carminha. A dona Nice informou que a senhora pegou emprestado um veneno de rato.
– Foi sim, dias atrás. É do senhor, não é?
– Sim. Vim até aqui pra que me devolva, necessito urgentemente.
– Ah, não está mais comigo... Desculpa. Minha sobrinha que mora quatro quadras daqui levou. O sem vergonha do marido não ajuda em nada à pobrezinha, é um peste, um vagabundo!
– Ah...
– Posso ligar e pedir para que traga de volta.
– Sem problemas, dona Carminha. Não é preciso tomar o tempo da sua sobrinha. Obrigado, tenha um excelente dia.
– O senhor também. Obrigada.

Por dentro está furo da vida. Maldita hora que emprestou o negocio pra outra pessoa. Agora nem morrer tem o direito. Adiar a morte por culpa dos outros. Ah, mas no mercado com certeza teria sucesso.

Não saia sem a carteira e segue para o mercado que não é longe. Que tolice ter feito o que fez, era só retornar no mercado e pedir um novo veneno pra ratos. Ai terá sua morte em breve.
– Ah, por favor. Gostaria do veneno de rato outra vez.
– Lamento, senhor. Não sei que há no bairro. Parece que surgiu uma epidemia de roedores e nisso acabou meu estoque. Estou preocupado, o senhor é a décima pessoa a fazer pedido.
– Não há mais?
– Exato. Com a epidemia, veio gente procurar o produto. Estou perdido. Terei que fazer uma remessa maior.
– Uma pena...
– O senhor quer que reserve?
– Não, não. Até lá, eu já resolvi o meu problema. Obrigado. Até.
– De nada. Até.

Será que morrer é carregado de dificuldades? No caso dele parece que sim.
Volta frustrado para o quartinho, pensa no que o dono do mercado falou da epidemia de ratos. Dá nenhuma importância para o caso.
– Quero morrer, será que é difícil? Tudo precisa ser difícil na vida, até pra morrer?
Seu pensamento foge pra boca. O velho sargento decepcionado.

Ao voltar, deita na cama de barriga pra cima a olhar o teto. Do lado de fora ouve a algazarra das crianças, a martelada há distancia do pedreiro, o som de automóvel gritando música sertaneja, barulho, distante e próximo. Da rua a voz escandalosa da mulher, dá bronca em alguém, talvez pra alguma criança, a voz some aos poucos. Não o deixam pensar, pensar na sua vontade. Imagina levar um tiro de assalto, direto no peito, pra que não haja socorro. Imagina a cena, ele desafiando o marginal, provocando, desejando que tenha ação e com sorte, consegue. O marginal nervoso dispara, com seu revolver e o ex-sargento é atingido e que não há como salvá-lo, ambulâncias, resgate, nada. Cairia com o riso aberto, contente e morto.

Lança um sorriso bobo no ar, em câmera lenta o admira próprio caído baleado, sangrando, sem gemer, sem estar assustado e surpreso.
Suspira alto, espreguiça, há tantas maneiras, jeitos, artimanhas para morrer. Tinha hora, dias, semanas e meses para concretizar a sua vontade.
– Quero breve. Pra ontem, se for pedir muito.
Pensar no veneno que era dele o fez entristecer. Velho de guerra azarado.

No vacilo, cochila. Desperta no horário do almoço. Levanta bravo, pois perdeu um tempinho de pensar no plano de morte. Droga! Não devia vacilar, não devia ser vencido pelo cochilo. Segue para o banheiro pra tirar do rosto a cara de sono, retorna e liga o rádio. “Notícias trazem um grave problema nos quatro bairros da cidade. Uma epidemia de ratos deixa alarmada a população. Alguns supermercados alegam que os estoques de veneno e ratoeiras acabaram e não confirmam o prazo correto para reposição.” “O departamento básico de saúde avisa do perigo que o roedor traz nas pessoas. Alerta todos para a vigília contra essa peste maligna.”
Desliga o rádio. Tem fome. Não gosta de perder tempo. Precisa comer.

Dura meia hora de preparo para o almoço. Com o prato senta na cama. Come a contragosto, mas tem fome. Pensa que dará a última garfada no arroz e feijão e na mistura, um bife bem grande, depois não prevê o que virá.
Talvez esteja vivo amanhã e depois de amanhã. Quem sabe? Ninguém descobre o dia de amanhã, só o hoje. E o presente é cruel, ironicamente não o permite levar a sério o seu desejo. Se fosse tão fácil como pensa...

Passa à tarde dentro do quartinho. Não arquiteta nada, relaxa com outras coisas, pensamentos velhos, lembranças perdidas, a ditadura e a família. Família composta da esposa e dele. Não tiveram filhos, sobrinhos tinham aos montes. Filhos não. Casal azarado como dizia para os cinco irmãos homens, todos com filhos abençoados de saúde, chutando bolas de futebol, transformando em novos soldados... Não! Os sobrinhos abominam o militarismo, rebeldes, afeminados, estudantes anarquistas e esquerdistas, amantes de Marx, putinhas de Proudhon. Era a esposa e o ex-sargento. Muitos anos de convívio e matrimônio. Ótimos anos de felicidade.

– De amanhã não passa.
Diz pra si mesmo. Tentando buscar alguma esperança perdida no fundo do poço. Se não pode morrer de veneno de rato, há tantas formas de entregar a vida.
– De amanhã não passa.
Deita, dispara um tímido sorriso. De olhos fechados desenha várias imagens. Uma delas a esposa falecida, bonita na juventude e o próprio bonitão dentro da farda, jovem, esbanjando energia. Imagens que sempre o agradaram, que convivem há anos como companhia.

– De amanhã não passa. Encontrarei minha hora...

...


Três semanas passam e nada de concluir o objetivo.
A crise de epidemia espalhou pela cidade e casos de doenças causadas pela praga surgiram. Principalmente nas crianças. Nos supermercados há uma extensa disputa dos clientes na busca de venenos. O que vem gerando disputas violentas de agressões por falta do produto. Em alguns supermercados de grande porte é gerado senhas com horários marcados para que se consiga a compra da mercadoria.

O ex-sargento assistiu e ainda assiste o caos da epidemia. Os vizinhos reclamaram da quantidade de roedores. Por falta de outra solução, resolveram o problema a paulada. Na calçada, loteada de roedores mortos. São grandes, enormes e pequenos, expostos a luz do sol.

Adiaram a morte. Por mais que quisesse, adiaram a morte. A vida continuava, mesmo com a praga na cidade. Ouviu das conversas dos vizinhos que uma menina de doze anos chegara a óbito e que um senhor estava quase a beira disso também. Sentiu inveja, pelo menos sendo de doença o adoentado morreria.
Acabou deixando de lado o plano. Seguiu a vida, calado no seu cantinho sendo visitado pelos roedores. Não ligava, permitia que fizessem a festa no quartinho. Quando todos estavam apavorados e lutando, o ex-sargento mal se importava com a presença dos bichinhos. Eram três ou dois não sabia o certo a quantidade, mas estavam dentro, criando morada.
Sentia o cheiro de urina, forte, prejudicial, que o lerdeava, tonto, de mal-estar. Ficava horas deitado e dormindo, acordava desorientado com o cheiro cada vez insuportável. Chamara a atenção de dona Nice.

– O que há? Esse cheiro forte é de rato?
Eram três dias, nem notara a lerdeza do corpo e a fraqueza. Teve que abrir bem os olhos pra fixar o rosto da mulher e entender o que ela dizia.
– Está bem? Parece-me esquisito. – Ela pergunta.
– Tudo bem. Não é nada. – Responde.
– Verifique, senhor. Pode ser urina de rato. Essas coisinhas nojentas estão por toda parte.
– Eu farei, dona Nice. Por favor, me dê licença, preciso descansar.
Sem ouvir o adeus tranca a porta e com dificuldade cambaleia para a cama. Desaba, como um pesado corpo derrotado.

Passam horas, tem impressão de ouvir ruídos. Algo se move, barulhinhos fininhos. Sua cabeça agitada, os olhos doloridos e as lágrimas que brotam teimosas. Sem concentração não distingue o que está acontecendo.

Perdido, vira o rosto para o lado. Os olhos uma cortina de vertigem, no chão há vultos, pequeninos, que andam pra lá e pra cá. São ligeiros e agitados. São três ou talvez dois. A cabeça uma confusão. Está doente o velho soldado...

– A morte virá me abraçar?
Calado, olha o teto. Tão desorientado de si...
...


Não compreende, porém ouve vozes. Vozes femininas. Uma delas tem a quase certeza que reconhece. Não compreende a conversa é um cochicho inaudível, sussurros baixinhos e não entende o do por que de estar ali. Não sente o corpo, tenta se mexer, mas alguém impede, sente uma mão fria tocar o braço e esforça pra abrir os olhos. Inútil. Escuta ruídos, bips descontrolados, passos, passos apressados e vozes. Na correria, o braço picado, quis gritar, não sai nada, tenta abrir os olhos, é inútil. A noção do tempo perdida. Parece preso, preso numa prisão invisível, onde há gente e não compreendia quem era.

Dessas vozes umas delas conversa diretamente, toca o rosto, arruma o cabelo, troca às roupas todos os dias, mas quem seria? Uma conhecida?
Semanas atrás desejava morrer, por um motivo que não conseguiria explicar, quis se entregar a morte. Sua vontade foi perdida, ao menos entende que não está morto. Pra qual lugar viera, também não sabe.
As vozes ainda cochicham, estão calmas, sente a aproximação de alguém, sente o calor da pessoa, ela sussurra e se afasta. Não está morto, tem total certeza. Quer abrir os olhos, mas é inútil.


É um novo dia e ele sabe. Percebe o vulto passando, um ruído de algo correndo e um clarão a preencher. O vulto passa, ouve o andar, é mulher pelo som do sapato, som de salto a bater no chão, forte e barulhento. Depois, o rangido desafinado de uma porta sendo fechada.
Não demora muito e entra alguém. Outra figura feminina, aproxima do seu rosto, lhe toca, a mesma de todos os dias, conversa com ele, chama o seu nome e não lembra quem seria ela. É hora de abrir os olhos sargento.

A pessoa pega na mão, sussurra palavras que não distingue, aperta forte, como se quisesse puxá-lo, quisesse buscá-lo do buraco, é um aperto de segurança, de que estará seguro pra voltar, que não precisa se preocupar, firme e confiante.
O puxa de volta, segura de si, protetora, é hora de voltar ao mundo general.

Aperta bem forte, quer segurança, firmeza, ter certeza de que não soltará sua mão. E assim aos poucos abre os olhos...
No começo vulto embasado, desconhecido. Custa a clarear, a endireitar as imagens e a pessoa o observando. A claridade é dolorida, chocam os olhos, aos poucos se acostuma, distinguindo as coisas, os objetos e a pessoa ali que ainda não largou dele. O som começa a melhorar, melhora aos poucos. Escuta vozes, passos sendo dados e maquinários agindo ordenadamente.
– Graças que acordou, graças! – Diz a pessoa feliz com sua volta.
Pois agora sabe quem é a pessoa. É nada mais nada menos do que a própria vizinha dona Nice.
– Avisarei a enfermeira que o senhor acordou. – Ela avisa.

Se solta, corre apressada a procura da enfermeira. E não, o ex-sargento não está morto. Talvez o detalhe o deixa menos contente.

A vizinha volta tão logo quando foi.
– Prontinho, ela virá em breve. O senhor, como está se sentindo?
O ex-sargento ignora a pergunta da mulher lançando sua própria pergunta.
– Por gentileza, dona Nice... O que sucedeu comigo?
– Ah, a gente o encontrou desmaiado e febril na cama.
– A gente quem?
– Eu e a Mônica, a vizinha de quarto. Pedimos pra arrombar a porta, vimos dois ratos saindo de dentro.
– E me trouxeram aqui? É o hospital?
– Sim, é o hospital. Sete dias internado.
– E a senhora tomou seu tempo para ficar comigo?
– Ah, mas o senhor não tem parentes próximos, então fui responsável de ficar cuidando e visitando-o.
– Entendo.
Abre uma cara de desanimo que a mulher percebe.
– Está sentindo dor? Incomodo?
– Nada. Acostumando com a luz e voltando a escutar as coisas normalmente.
A cara com a mesma expressão. Agora pintada de derrota.
– Sabe dona Nice. Às vezes desejamos aquilo que não está preparado na hora que queremos. Certamente o que desejamos virá, mas não no momento que preparamos. É um grande mistério, não é verdade?
– Ah, com certeza. Desculpa, não entendi onde se encaixa o assunto.
– Não é nada. Apenas uma divagação por alto.
– Ah, entendi. Fique tranquilo, a enfermeira vem vindo.
– Tudo bem...
E vira o rosto para o lado tentando buscar respostas que não viria na sua mente.

(Rod.Arcadia)

Nota: * Trecho da música Fio de Cabelo de Chitãozinho & Xororó.











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